Viajar nos Livros - Costa Rica, Peru, Chile e Argentina (Patagónia)
- Sardine Ana

- 14 de nov. de 2024
- 4 min de leitura
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Livros

📖O Vento dos Outros - Raquel Ochoa | 🌍 Viajar com mochila às costas na Costa Rica, Peru, Chile e Argentina (Patagónia) em 2004/2005
O Vento dos Outros
por Raquel Ochoa

O livro "O Vento dos Outros" ensinou-me várias lições. A primeira foi dar uma segunda oportunidade. Eu tinha acabado de terminar de ler outro livro da mesma autora, e não fiquei totalmente rendida. No entanto, no dia seguinte a terminar o livro, fui a uma feira de velharias e vi "O Vento dos Outros" com a seguinte citação na contracapa:

Contracapa "O Vento dos Outros" - Raquel Ochoa
O livro chamou-me imediatamente a atenção, por ser algo que digo sempre sobre viajar: "Só me arrependo das vezes em que não fui", e então pensei para mim... "porque não?"... e decidi embarcar noutra jornada literária com a Raquel Ochoa. E fico feliz por o ter feito.
"O Vento dos Outros" fala sobre uma jornada de 6 meses que a Raquel fez por vários países da América do Sul e pela Costa Rica na América Central. Nesta viagem ela mostra um pouco do que é a América do Sul: "A América Latina é uma terra de desigualdades sociais onde o ponto de ebulição foi alcançado há muitos anos. E continua lá. É uma reserva global de muitas coisas importantes (...). A América do Sul foi e ainda é explorada por todos aqueles que a compram. Alguns dos governantes desses países cumprem efetivamente o papel de dispensadores de riqueza, em troca de uma ganância incalculável."
No entanto, a América do Sul e o livro são muito mais do que a disparidade, é uma jornada de aprendizagem e conta-nos sobre a magia que certas pessoas e lugares criam em nós. Ensina-nos a abraçar a natureza e todo o desconhecido que ela nos traz, pois somos parte da natureza e não duas entidades separadas. As descrições de Raquel são deliciosas e fazem-nos embarcar na sua própria metamorfose.
O livro fez-me pensar em como cada pessoa muda a cada viagem que faz. Também me fez refletir sobre como essas transformações podem ser solitárias, como essas experiências podem ser ricas e cheias de novas pessoas, mas também como a solidão pode nos atingir ao longo do caminho e, às vezes, ser confortável, e outras vezes, aterrorizante.
Raquel conta-nos, ao longo do livro, a sua jornada pelos diferentes países, as pessoas que conhece ao longo do caminho, os momentos mágicos, mas também os momentos menos bons. Guia-nos pelas decisões que tomou durante uma viagem de 6 meses com uma mochila. Uma busca pelo desconhecido que era ela mesma.
Fiquei tão inspirada, e a Raquel é uma contadora de histórias, então foi difícil selecionar apenas algumas citações do livro sem contar as histórias inteiras. Então, preferi partilhar alguns momentos para reflexão:
Sobre a morte:"Havia cerca de 20 pessoas atrás do caixão, que era sustentado por braços. Uma banda tocava com pandeiretas, saxofones, acordeão e trombone. Ninguém parecia triste, exceto três pessoas que choravam (…) No México, por exemplo, é comum as pessoas ficarem bêbadas em velórios com a bebida preferida do falecido. Garrafas da bebida são colocadas no caixão para que a pessoa entre no outro mundo com tudo o que ela gostava, no estado mais alegre que tinha em vida."
Raquel afirma que:"É difícil para nós, europeus ocidentais, aceitar que pode haver tanto barulho num funeral, com pessoas a rir à gargalhada. É difícil para nós reconhecer que o luto pode ser expresso de várias maneiras e que uma despedida final realizada com alegria pode, de certa forma, ser tão lógica quanto uma envolta em tristeza."
É acreditar que a pessoa só vai em plenitude se não ouvir as lágrimas deixadas para trás. Como é difícil para nós aceitarmos as diferenças nos momentos de tristeza? Será que pensamos que existem outras formas de enfrentar esses momentos?
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Sobre as despedidas: Enquanto conta uma história sobre um cão perdido que ficou com ela numa parte da jornada, Raquel pensou sobre como "viajar é perder pessoas". A história é longa e não quero dar palpites, mas senti essa frase dentro de mim. Eu prefiro dizer que viajar é uma oportunidade de conhecer pessoas, mas as despedidas são difíceis. Aqueles momentos, naquele contexto, dificilmente serão replicados, e assim, as memórias e, algo muito português, fica dentro de nós: saudade. Como disse Exupéry em "O Principezinho": "Aqueles que passam por nós não vão sós, nem nos deixam sós; deixam um pouco de si, e levam um pouco de nós."
Quantas pessoas e momentos se perdem na "Saudade" dentro de nós? Quantos conseguimos guardar? Devemos chorar ou celebrar a oportunidade e deixar que as memórias sejam construídas sem tristeza?
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Sobre coragem:"A terra encantada é de repente descoberta (…) anunciando que há uma montanha dentro de ti, até então inacessível, que abriu as portas para visitantes selecionados. O céu terá apenas as neblinas que tu decidires, como único critério para escapar da monotonia de brilhar sempre o sol."
Terias a coragem de ir? "Prepara-te. Só uma descida muito grande pode impulsionar-te para a maior das subidas."
Com estas perguntas na minha cabeça e com este livro, não é viajar uma forma de aprender, crescer e, na verdade, nos permitir ser empáticos com os outros? Não é viajar uma oportunidade de, por um momento, calçar os sapatos de outras pessoas e reconhecer que o mundo não é apenas preto e branco? Não é a viagem uma forma de realmente nos conhecermos?
Um livro que me deixou com muitas perguntas… e que alimentou a cientista que existe em mim. Perguntas fazem-nos seguir em frente (e, às vezes, para trás), certezas fazem-nos ficar estáticos.
Se tiveres outras sugestões de livros com histórias que contam a História da Costa Rica, Peru, Chile ou Patagônia (Argentina), mas especialmente sobre as pessoas dos Andes, avisa-me e lembra-te de sair da tua lata e explorar o mundo!
Sempre vossa,
Uncanned Sardine






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